sábado, 23 de abril de 2016

Parcimônia Frenética #14 - Aventureiros (Uma estrada sob o sol)

A equipe morosamente pela beira da estrada de terra batida, rejubilando-se a cada oásis de sombra debaixo de uma das raras e solitárias árvores que surgiam fortuitamente acompanhando a estrada. Para este e aquele lado só se podiam ver extensos terrenos de grama alta ou algum cultivo de grãos, intensamente iluminados pelo o sol que no momento se encontrava livre do abraço dos nuvens bem ao centro do céu. Uma brisa refrescante era uma bênção rara e fugaz. E as pesadas mochilas de equipamentos, e as armas, e as armaduras já parcialmente retiradas, não tornavam o caminho nem um pouco mais fácil.

O clima estava claramente taxando mais cruelmente a mulher baixa, extremamente baixa, que estava quase que totalmente despida de suas vestes protetoras de pele grossa de urso e tachas de metal. Sua pele alva estava rapidamente tomando um tom rubro, especialmente nas bochechas, nariz e ombros, quase tão rubros quanto seus cabelos ruivos. Ela escorria gostas de suor a cada passo, e parecia dá-los arrastado os pés. Ofegava e pendia sob o próprio peso. Mas se recusava a parar ou largar a sua mochila, ou mesmo tirar o imenso machado de cima do ombro.

O homem que andava na frente fez uma pequena pausa e dirigiu o olhar a equipe que o seguia. Metade das imensas placas de metal que normalmente cobriam seu corpo estavam encaixadas entre si e amarradas junto a sua mochila, o que fazia parecer que ele certamente estaria carregando o maior peso dentre os outros que o seguiam. Sem contar que as placas de metal que mantinha nos braços e pernas provavelmente o estariam cozinhando lentamente naquele sol. E mesmo assim ele parecia o menos afetado pela situação como um todo. Não fosse o suor escorrendo em sua testa, mal se poderia dizer que estava caminhando a tanto tempo no sol.

Seu olhar atencioso e sério perscrutou a anã ruiva, e seus lábios se torceram de maneira desaprovadora. Ele sabia que anã vinha das terras do norte, que eram governadas pelo frio e pelo gelo, e portanto aquele clima provavelmente estaria minando suas forças em ritmo acelerado. Respirou profundamente e soltou uma mescla entre bufo e suspiro antes de voltar seus olhos para o caminho em frente.

- Nerani. - a voz do homem ecoou num tom grave e categórico - Veja se encontra um riacho escondido na vegetação no campo ali a esquerda. Pelo que eu lembre, devem haver algumas árvores baixas por ali.

A mulher alta e esbelta, de pele morena e sedosa, que usava tiras de couro, pele, e casca de árvore discordantes como vestimenta parou de andar ao ouvir a ordem. Ela ajeitou os longos e volumosos cabelos escuros e encaracolados para trás das longuíssimas e pontudas orelhas, e lançou um longo e incisivo olhar para o homem que a proferira. Por alguns segundos pareceu estar prestes a expor algum tipo de protesto, mas por fim se acalmou e soltou o ar de forma longa e monótona.

A elfa pôs o longo galho de madeira que lhe servia como bastão no chão, logo em seguida se agachou e retirou a mochila das costas, deixando-a no chão também, passou a tira de couro do cantil sobre a cabeça, lutando com os sujos e emaranhados cachos com adereços de pena e osso no processo. E enquanto tudo isso acontecia, um pequeno mico saltava pelas suas costas, cabeça, e ombros, habilmente manobrando a si mesmo para continuar empoleirado na elfa.

- Prim, você também... - ela disse levantando a mão até próximo ao ombro onde agora o mico se encontrava

O mico pulou para o seu braço e soltou um guincho inquisitivo para a elfa, observando-a atentamente com os enormes olhos escuros e virando a cabeça em movimentos rápidos e curtos.

- Espere aqui...

Ela pôs o pequeno primata sobre sua mochila, onde ele ficou após soltar um leve guincho de desaprovação. E então se levantou.

A elfa elevou ambos os braços bem ao alto, e respirou profundamente. E enquanto soltava o ar algo incrível acontecia... Seu corpo parecia diminuir, retraindo para dentro de suas vestes, seu rosto parecia alongar-se, seus braços se vergavam de maneira estranhas, e penas brotavam de sua pele.

A transformação foi rápida, durando pouquíssimos segundos, e por fim suas vestes caiam vazias no chão enquanto a elfa, agora uma harpia amarronzada e cinzenta, voava para fora e para o alto.

Nenhum dos outros integrantes da equipe pareceu surpreso ou assustado, apesar de alguns estarem claramente impressionados. Essa não era nenhuma novidade entre eles.

A elfa em forma de ave sobrevoou a equipe e então o campo, sendo observada atentamente pelo primata que havia ficado no solo. E depois de algumas voltas pelo céu, finalmente começou a sobrevoar um lugar específico sobre o campo e soltou um assobio de chamado.

- Phyl, vá na frente. - o homem com as placas de metal comandou enquanto se movia para pegar a mochila da elfa, o que aumentava a sua carga insensatamente grande.

O pequeno mico pulou animadamente para sua cabeça, aparentemente acostumado com o homem.

Antes que pudesse abaixar para pegar as vestes da elfa, foi interrompido por um dos outros membros da equipe. Um jovem de cabelos intensamente pretos e olhos intensamente azuis, que vestia robes desnecessariamente longos e escuros, e se recusava a tirá-los mesmo naquele calor. Ele catou cuidadosamente as vestes estranhas e desconexas da elfa, com certa dificuldade para dobrá-las e em algum ponto quase derrubando tudo, e ofereceu um sorriso constrangido mas gentil ao homem que parecia já ter peso demais.

O homem agradeceu a ação com um aceno de cabeça.

Enquanto isso, Phyl, o último membro do grupo, habilidosamente já seguia através da grama alta. Com cuidado e precisão, o pequenino ser que lembrava um homem adulto encolhido ao tamanho de uma criança averiguava o terreno e traçava uma trilha clara até o ponto em que a elfa sobrevoava. O halfling vestia uma calça de couro leve e bem costurada de onde surgiam mais e mais bolsos por quanto mais tempo se observasse, e levava na mochila o resto de sua armadura.

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