quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Parcimônia Frenética #23 - Raiders Of The Lost Word IV

Os caçadores da palavra perdida sentam relaxados em suas poltronas de camurça enquanto limpam a cera de seus ouvidos com o dedo mínimo. E enquanto arremessam a bolinha de cera adquirida com zelo através da sala, eles ouvem uma palavra interessante sendo dita por JonTron num de seus vídeos no YouTube. E aí meus caros, vocês já sabem...

Conhecer a palavra é ter o poder sobre ela. Ter o poder sobre algo eventualmente leva à tirania e a crueldade, como provado pelos experimentos de Milgram e da prisão de Standford. Então comece a sua jornada como o novo ditador autoritário de sua própria pátria latino-americana de palavras e comece hoje mesmo a obter conhecimento!

Então, a palavra de hoje éeeeeeeee:

Albeit

Vocês podem conferir o JonTron falando ela aqui: https://youtu.be/Oy_JlG7C-T8?t=22s

al-be-it (\ȯl-ˈbē-ət, al-\)

Essa linda palavrinha é uma conjunção. Ou seja, ela serve para ligar frases distintas usando um determinado tom para definir a relação entre elas.

'Albeit' é similar a 'although', que é mais conhecida, e inclusive pode ser usado em seu lugar em vários, porém não todos, casos. E portanto ela tem um sentido parecido com "apesar de". Por exemplo na própria frase do JonTron:

"And now, albeit a bit late, here's something I've been promising you..."


O que significaria algo como:

"E agora, apesar de um pouco atrasado, aqui está uma coisa que eu vinha prometendo a vocês..."


***

A graça de 'albeit' é que a palavra foi uma das primeiras a ser registrada no século XIV, e lá pro meio do século XX ela foi classificada como arcaica por ter caído em desuso. Porém ela começou um retorno glorioso aos dedos e línguas anglo-saxônicas a partir do anos 30.

Então você pode encontrar essa palavra sendo usada normalmente em alguns lugares, ou então num sentido mais cômico. O JonTron, por exemplo, é um cara que gosta de usar palavras arcaicas para soar de forma rebuscada. Mas é possível que 'albeit' já tenha se infiltrado em seu vocabulário regular.

Então é isso aí. Any questions, comments, or complaints?



Referências & Fontes:
https://www.merriam-webster.com/
https://www.youtube.com/user/JonTronShow
Minha mente doentia e perturbada

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Parcimônia Frenética #22 - Luismar e o grito

Assim que levantou da cama, Luismar começou a ouvir o grito. Alto, ensurdecedor, inquietante. Perene e constante, um grito impossível de ignorar.

Ele fechou pegou as roupas no armário e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si e com isso abafando um pouco o grito. Mas ainda assim o grito estava lá.

Foi ao banheiro, lavou o rosto e se vestiu, se preparando para um novo dia de trabalho. Mas mesmo assim era incapaz de ignorar o grito que ainda ecoava em seus ouvidos. 

Passou um café, mal, e bebeu uma xícara de café, ruim, forte. A cada gole da substância negra, encorpada, e amarga que tomava o grito era abafado um pouquinho mais.

Saiu de casa e se encaminhou para o ponto. O grito bem mais baixo mais ainda presente ao fundo. Encostou a cabeça na haste metálica que segurava o pequeno abrigo do ponto de ônibus e fechou os olhos. No breve momento em que relaxou notou o seu erro, pois ignorando o sol em seus olhos e a preocupação pelo ônibus e a hora o grito se tornou mais presente e notável.

Balançou a cabeça e abriu bem os olhos. Esfregou a cara e ajeitou a mochila nas costas. Encarou o fluxo constante de carros meio desligado e tentou novamente abafar o terrível grito.

Já no ônibus, uma nova provação. Um lugar para se sentar podia parecer uma coisa boa, mas quando relaxava no banco duro e desconfortável o grito começava a ficar mais alto de novo. Somente os sacolejos do transporte conseguiam abalar sua concentração o suficiente para impedir que o grito se tornasse ensurdecedor.

Felizmente sua viagem terminou antes que o grito o dominasse por completo.

Desceu do veículo incômodo quase que a contragosto. Olhou para o prédio alto no fim da rua e respirou fundo. Pensar no mais um dia de trabalho que o aguardava só fazia o grito se tornar mais insistente.

O dia passa num zumbido de estupor, tarefas monótonas repetidas, a eventual conversa jogada fora com os colegas... Tudo isso ajuda e atrapalha ao mesmo tempo. Às vezes quase afogando o grito por completo, às vezes tornando ele tão alto quanto a primeira vez que o ouvira no dia.

Ao fim do dia um convite para estender o papo para o boteco próximo. Luismar até considera aceitar, mas o grito estridente já está voltando a ficar mais e mais barulhento. O grito vence e Luismar volta para casa.

Luismar chega em casa quase surdo, o grito cada vez mais alto. Ele mal aguenta.

Larga a mochila e os sapatos largados da sala de qualquer jeito. Vai tirando as roupas a caminho do quarto. Deixa tudo jogado na cadeira da escrivaninha e se deixa cair de cara na cama.

E finalmente, finalmente o grito cessa.

Finalmente a sua cama para de lhe chamar.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Gyff & Tsumomo #69

Gyff ficou estatelado no chão por alguns instantes tentando compreender o golpe aplicado por Nighstar.

- Alguém marcou o cavalo?

Black Wing observou o ladino, pasmo, e imóvel, deitado no chão. Nightstar bateu com tanta força que quebrou uma parte do chão. O dano seria pior se o próprio Gyff não houvesse reforçado as prórpias costas com magia, amortecendo o impacto.

sábado, 12 de novembro de 2016

Gyff & Tsumomo #68

Ao escutar as palavras de Konvaa, Lina soltou uma carga de energia. Konvaa foi arremessado contra a parede do recinto e o barulho do golpe fez com que diversos outros agentes entrassem em cena prontos para agir. Ela estava com o cabelo esvoaçante e emanava uma energia muito forte de seu corpo, mas antes mesmo que eles pudessem fazer qualquer coisa, Konvaa, levantou a mão sinalizando-os para não tomar nenhuma ação.

Tsumomo ainda estava no chão, mas o investigador se levantava lentamente. Ele se pôs de pé, mas logo tornou a sentar.

- Saiam! - Ordenou.

Aristides, o Gato

Aristides era incrivel. Era um ser de uma beleza inimaginável. Seus passos graciosos em qualquer local que se encontrasse facilmente cativava as audiências que rapidamente viravam seus olhos para lhe fornecer atenção. Ele era, realmente, um gato.

Ele gostava muito de comer peixe. Especialmente porque ele valorizava muito a arte da pesca. Aristides era capaz de esperar horas a fio para pescar seu peixe. Geralmente ele pesca mais de um, mas ele certamente não é muito guloso.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Parcimônia Frenética #21 - Pensamentos Aleatórios (Bem & Mal)

Quando eu era criança, e acredito que muitas crianças daquela época também, eu fui basicamente doutrinado no Maniqueísmo.

Havia o bem e havia o mal. Ambição, avareza, luxúria, egoísmo e tudo que era ligado a desejos materiais era mau. A humildade, gentileza, caridade, altruísmo, e tudo aquilo que era ligado ao espiritual era bom.

E isso estava presente em toda cultura popular. Nos filmes e desenhos, não havia vitória maior do que converter o vilão de volta a sua natureza bondosa. Afinal matar ou destruir alguém, mesmo um vilão, é algo mal e o bem não pode fazer isso.

Essa dicotomia governou minha vida até o começo da minha adolescência. Nessa época a cultura popular também começou a introduzir mais personagens maus carismáticos e atraentes, e o entretenimento voltado ao público dessa idade já abordava assuntos mais sérios e cinzas. O mal começou a vencer. O mal começou a não se converter para bem e mesmo assim se tornar o protagonista.
Um exemplo que eu posso dar claramente é o de Star Wars. O personagem mais adorado de Star Wars não era o Luke, ou a Leia, nem o Han... O personagem que todo mundo achava mais legal era o Darth Vader. E sim, ele tecnicamente se redimiu e tal. Mas durante a maior parte do tempo ele era um vilão e nada mais, e mesmo assim ele era o cara mais atraente.

Nessa época já turbulenta da puberdade eu sofri uma enorme quebra de paradigma em relação a minha doutrinação. Subitamente o mal e o bem eram palavras muito fortes para descrever a maioria das relações de poder e interesse que surgiam no cotidiano. Defender os seus aliados as vezes significava causar a destruição de pessoas que nunca fizeram nada de ruim pra você especificamente. Vencer era algo necessário para a sociedade, e vencer as vezes significa acabar com a chance de pessoas inocentes de terem sucesso.

Enfim... O mundo se tornou um lugar muito mais complexo. Eu já não podia mais me esconder atrás de brados de uma luta pela Justiça e pelo Bem. Haveriam aqueles que venceriam, que obteriam sucesso, e aqueles que perderiam. Os populares e os perdedores. Os legais e os otários.

E então eu fiz uma coisa muito bizarra... Eu assumi a merda do papel do vilão. Eu era propositalmente arrogante e prepotente. E eu era inteligente, então eu era muito capaz de passar qualquer um pra trás. Eu fazia tramas e planos ardilosos. Eu mentia e enganava.

Mas eu fazia isso com a intenção de me tornar "o vilão". Eu queria tomar o lugar da entidade que representava tudo que os outros odiavam. Eu queria ser o inimigo em comum, para que os outros pudessem se unir sob uma bandeira "do bem" contra mim.

E eu fiz isso num bizarro ato de altruísmo que visava uma convivência pacífica entre todos os outros. Basicamente, eu polarizava todas as discussões para que as minorias, os perdedores, os otários, não fossem esmagados. Todos que estavam contra mim estavam do lado vencedor e correto.

Mas o que isso tem a ver?

A questão é que hoje em dia, o dark side está na moda. Crianças e adolescentes cada vez mais cultuam e endeusam os vilões. Todo mundo quer ser Sith. Todo mundo quer ser Sonserina. Todo mundo que ser Akatsuki.

Eu não consigo mais ser o vilão e polarizar as discussões em grupos de jovens. Porque os babacas acabam achando a crueldade e a maldade legais.

Muitas características que eu só fui aceitar como coisas que não eram completamente más bem mais velho, como ambição e um certo grau de egoísmo que nada mais é que autopreservação, hoje em dia são admiradas por jovens e crianças.

Essa desmistificação do maniqueísmo na nossa cultura não é algo que eu veja como essencialmente produtivo e bom. Por um lado é conhecimento superior e eu tenho muita dificuldade de ir contra qualquer forma de difusão de conhecimento, mas por outro lado talvez seja uma coisa que vá causar mais problemas do que ajudar.

Sei lá.

Me incomoda um pouco como tem tanta criança hoje em dia que não vê os bandidos, os vilões, como sendo nada além de inimigos. Como alguns até almejam vidas e características que antes só pertenciam a pior escória do universo popular. Afinal conquistar e vencer é bom, não importam os meios ou por quem você passe por cima.

Me incomoda mais ainda o fato de que não sei se essas crianças são só um bando de babaquinhas falando merdinhas para parecerem legais, mas que no fundo seriam incapazes de matar uma mosca. Ou se estamos criando uma geração de pequenos sociopatas.

Concluindo... Isso tudo foi pra dizer que se você acha que os Sith são mais legais que os Jedi, se você se diz Sonserino com orgulho e defende o pobre e injustiçado Draco Malfoy, se você gosta do Sasuke, eu acho você UM ENORME BABACA.

Não, sério... Você é um otário.

Não, mentira... Você é retardado mesmo.

Não, foi mal, parei.

Por favor, reveja seus conceitos. O mundo não é preto e branco, mas os Sith não são legais. Os Sith vivem numa espiral de paranoia e angústia, sem poder confiar em ninguém, sem nunca receber ajuda.

A Sonserina é uma casa que foi criada por causa de racismo e preconceito. É uma casa que aplaude aqueles que se preocupam com si mesmos antes de qualquer outra coisa. E por mais que as coisas sejam diferentes e possam haver qualidades boas advindas disso, ainda não é uma casa que qualquer pessoa com um mínimo de compaixão e empatia adotaria sem um pouquinho de vergonha.

E o Sasuke... O Sasuke é um adolescente retardado, angustiado, e infantiloide. E é vergonhoso você achar ele legal. Sério. Pára.

domingo, 6 de novembro de 2016

Hardcore Devel #63 - Registros - Enterprise vs. Open Source

O movimento do código aberto em contraste com as grandes desenvolvedoras de software geraram duas correntes e duas formas de produzir software.


E as duas formas possuem algumas curiosidades relacionadas a evolução da programação do software.

Gilson vs. Carlos

Gilson estava fazendo um Nescau às 01:00. Foi até a cozinha, pegou um copo de requeijão vazio. Abriu o pote de Nescau lentamente como uma pessoa sonolenta normalmente faria e concluiu enchendo o copo com leite integral. Pegou a colher com o qual havia colocado Nescau e homogeinizou a mistura.

Só que ele sempre teve um problema fazendo Nescau. Ele sempre dissolvia o Nescau o suficiente para que não ficassem elementos insolúveis flutuando na superfície do visível do líquido, por mais que todos soubessem que sempre haveria Nescau decantado no fundo. Isso fazia com que ele ficasse pelo menos 5 minutos dissolvendo aquele pó achocolatado.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Pensando Sobre Matemática #61 - Desigualdades

Bom, quando você estuda a matemática você vê um monte de igualdades:


Só que e quando você tem desigualdades?

Hardcore Devel #62 - Minimalist Arena #8

E o desenvolvimento não pára! Vamos falar mais um pouco sobre esse projeto que não está dando o que falar porque ninguém conhece!


Sim. Eu não desisti disso. É minha monografia, cacete!

domingo, 30 de outubro de 2016

Gyff & Tsumomo #67

- Você sabe que Tsumomo não é apenas forte. Não sabe?
- Bom, ela parece conhecer um dos detetives.
- Pois é. E ela me conhece também, Gyff. - Disse Black Wing, colocando um Katar no pescoço de Gyff. - E eu tomaria bastante cuidado se fosse você.
- Vai me matar?
- Se um amigo, mata outro amigo meu, certamente o primeiro não era meu amigo em momento nenhum.

Foi a primeira vez que Gyff viu BlackWing tão concentrado e pronto para tomar qualquer atitude drástica que julgasse necessária, independente das consequências.

sábado, 29 de outubro de 2016

Cotidiano Insano #1

- Evan! Corra até aqui! - Gritou Saloud.
- O que foi? - Disse o Evan, aproximando-se da janela com passos bem lentos.
- Deixa de lerdeza! Olha praquilo ali! - Saloud apontou para uma macieira onde um grupo de quatro gatos andava em círculos ao redor do caule da árvore.
- É só um bando de gatos. - Respondeu Evan, despachando o outro rapaz que observava a ação dos gatos pela janela do segundo andar.

Evan era um cara normal com muito sono saindo para trabalhar. Ele é apenas um funcionário de uma pequena padaria que ficava há quatro ruas do apartamento. Saloud era designer e trabalhava sazonalmente como freelancer e ficou lá observando os gatos até ficar de saco cheio.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Dá o Play Macaco #61 - Spice Girls

Mais ou menos ali entre 1996 e 2000, um grupo de 5 britânicas fazia um sucesso miseravelmente grande.


Todo mundo conhecia essas cinco.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Falta Consciência

Essa reflexão foi escrita puramente por raiva e decepção com a maioria das pessoas que vivem no município do Rio de Janeiro.


Vamos contar a triste hstória. Há palavrões a frente.

Polêmica #63 - Cabelos

Seja pra cima, pro lado, pra baixo, ou simplesmente chapado. Cabelos são sempre alo de comentários eeeeeeeeeeee....



Você já sabe o que.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Pensando Sobre Matemática #60 - Multiplicando

Olá viajantes da matemática, ou pessoas sem nada para fazer! Hoje nós vamos falar sobre multiplicação na aritimética. Ou seja, a gente não vai trabalhar com funções.


Por exemplo, vemos acima uma multiplicação de ninjas.

Lembrando que esse post é patrocinado pela galera do MathJax, então ligue o seu Javascript e segue essa bagaça!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Hardcore Devel #61 - Unified Datagram Protocol

Ah, UDP... Vocë com esse seu jeito tão simples encanta as multidões e deixa seus rastros pelos roteadores do mundo.


Acima por exemplo, vemos um alguém que abandonou um pacote UDP em algum roteador. Hoje nós vamos falar sobre o que diabos é esse UDP.

sábado, 22 de outubro de 2016

Gyff & Tsumomo #66

- Konvaa!

A voz da succubus ecoou pelo departamento de invetigação de Amaquabá. Diversas outras pessoas olharam para Tsumomo, vestida apenas com uma malha apertada que cobria seu corpo. Era uma roupa deveras obscena, exatamente o intuito com o qual ela foi criada, porém imbuída com uma quantidade de magia que muitas outras armaduras não possuem.

- Olá, Tsumomo. - Disse o elfo saindo de sua sala, usando o seu clássico uniforme azul. - Em que posso ajudá-la?
- Escute! Nós não podemos enviar pelotões militares atrás da Rainha!
- Eu sei. - Ele respondeu secamente.
- Você sabe!? - Ela perguntou admirada.

Konvaa pediu para que elas o acopanhassem até a sua sala, onde as serviu água, fechou a porta, e as convidou a sentar. Ele começou a falar antes que elas tivessem tido tempo de reação.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Zarzari, Petra e o Travesseiro

Zarzari acordou cansado, e olhou para o despertador e pensou - Eita vaca! - pois estava pelo menos quinze minutos atrasado. Felizmente sua mochila já estava arrumada, sua roupa já estava passada e estava tudo no esquema era só pegar a chave e...

"Cadê a chave?" -  Será que alguma força do universo conspirava para o seu atraso?

O seu quarto estava desarrumado sim, mas nada que não fosse normal para ele, ou para um quarto qualquer. Algumas roupas espalhadas aqui e ali; livros em outro ponto do recinto; e outras coisas normais de um quarto. Zarzari levantou todas as roupas do chão mas nada da chave.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Divulgação Gratuita #5 - Minha 1a. Vez

Não galera, eu não estou falando da primeira vez que eu engajei em uma relação sexual.



Eu estou falando de um canal de vídeos.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Polêmica #62 - Logística

Logística é um problema comum no nosso cotidiano, e por ser tão recorrente, já deveríamos saber como solucioná-lo.


Só que essa malita logística está em tudo de forma invisível e muitas vezes nós somos incapazes de perceber isso. Senhoras e senhores, bem vindos à sua fonte preferida de polêmica!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Parcimônia Frenética #20 - Na ponta da língua (Epílogo)

Então... Aqui está o epílogo que você não queria, para o conto que você não leu.

***

A mãe de Cherry olhava apreensiva enquanto as pessoas entravam na casa.

"Vamos, Laura...", disse alguém, mas ela sequer notou.

Laura ainda estava do lado de fora da casa depois que a última pessoa entrou. Ela aproveitava a brisa fria da noite para tentar se acalmar. Com todas as forças tentava impedir que os olhos se enchessem d'água, pois sabia que se começasse a chorar teria uma crise de nervos e seria incapaz de seguir com o que devia ser feito naquela noite.

Ela olhou para o céu e só viu nuvens grandes e cinzas. Enquanto tentava, sem sucesso, achar uma estrela para tentar tirar sua mente da espiral descendente de desespero em que se encontrava foi surpreendida por uma voz grave, rouca, e silenciosa atrás de si.

"Estamos começando, Laura... Você tem que vir", disse o velho alto e magro, de cabelos grisalhos mas aparência forte parado na porta.

O seu tom era calmo e autoritário. O que devia ser feito, devia ser feito. Era simples assim. O velho preferia não perder tempo com coisas que não podia mudar, e não tinha tempo nem paciência para lidar com as emoções dela.

"Tudo bem. Eu estou indo."

Laura respirou fundo, deixando o ar frio encher seus pulmões, e se virou para entrar na casa. Assim que o velho viu que ela estava indo, entrou na escuridão da casa e sumiu, deixando pra trás somente o barulho de seus passos decididos.

Ela navegou pela escuridão da casa com calma, ainda tentando atrasar o máximo possível sua chegada na reunião, como se isso pudesse de alguma forma mudar algo. Mas não podia. O cheiro levemente adocicado que subia pelas escadas que levavam ao porão eram a maior prova daquilo.

Quando chegou no alto das escadas que desciam para o salão iluminado, viu que uma de suas vizinhas esperava nos degraus no meio do caminho.

"Laura... Eu... Eu nem imagino o que você esteja sentindo... Mas... Você sabe... Se pudesse ser diferente... Se..."

"Não pode.", Laura respondeu rispidamente e seguiu descendo os degraus, passando pela outra sem nem olhá-la.

Decidiu que tomar a atitude do velho era o melhor que podia fazer naquele momento, nada que ninguém pudesse dizer poderia mudar alguma coisa. Ela tinha que participar do ritual.

O salão subterrâneo era amplo e iluminada por dezenas de tochas e velas. Estátuas cujas sombras brincavam nas paredes acompanhando as luzes bruxuleantes rodeavam o lugar. Corpos humanos com cabeças de gatos, cachorros, crocodilos... Ao fundo um pequeno elevado com um púlpito ao centro. E no meio do salão uma enorme e comprida mesa de madeira, com muito lugares, a maioria já ocupado.

O velho estava subindo no elevado e se dirigiu para trás do púlpito, onde depositou um pesado livro de aparência ancestral. Laura seguiu para um dos lugares vagos a mesa, seguida pela sua vizinha que descera as escadas apressadamente atrás de si.

Então o velho começou a ler o livro em voz alta, sendo às vezes respondido em uníssono pelos presentes. Mas Laura não prestava atenção nenhuma das palavras que ecoavam pelo salão. Seus olhos estavam fixados, aterrorizados, no prato de metal que estava a sua frente. Em cima do prato, um pedaço suculento de carne.

Ela encarou a carne e teve que se controlar para não vomitar. Começou a pensar em como poderia fazer aquilo. Como poderia fazer aquilo sem entrar em pânico. Sua respiração começou a ficar mais e mais rasa e rápida. Não conseguia tirar os olhos do pedaço de carne no prato, o pedaço de carne ainda sangrando.

Mas quando pensou que não seria mais capaz de aguentar e soltaria um grito, sentiu as mãos enrugadas e calejadas do velho em seus ombros. E então... Se acalmou. Ou ao menos o tanto quanto era possível naquela situação.

O velho apertou levemente seus ombros e então seguiu o caminho para o último lugar vago na cabeceira da mesa.

"Mais uma vez os sinais foram recebidos por um oráculo que se tornou sacrifício. Mais uma vez nos reunimos para garantir que o ritual seja realizado.", disse o velho.

E então ele tocou o sangue que escorria do pedaço de carne em seu prato com a ponta do indicador direito, e o levou então até a ponta da língua.

sábado, 6 de agosto de 2016

Gyff & Tsumomo #65

- Bom, senhor Hawthorne. Já que está aqui, deseja algo? - Perguntou Cowboy.
- Flaxão, por favor.

Gyff estava logo ao lado escutando, o interino Hawthorne parecia não se importar com a presença dele. Cowboy servia a bebida do interino como se ele fosse um cliente normal, ao mesmo tempo colocou mais um copo de fermentus para Gyff e mais um copo de Whisky para si mesmo.

- Já conhece o meu amigo Gyff?

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Dá o Play Macaco #60 - Love Lab

Eu já vi esse anime a muito tempo. Acho incrível não tê-lo mencionado antes.


Vamos largar o OST da intro aqui.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Tempestade de Bolinhas de Fogo

Não era um dia comum. Bolas de fogo estavam caindo do céu.

Sério, cara. Bolas de fogo. Pequenas bolinhas de fogo caiam do céu. Elas náo conseguiam queimar nada, mas eram bolas de fogo. Era muito maneiro ver aquele monte de fagulhas caindo do céu em direção a terra.

Exceto quando elas caíam em cima de você. Nesse caso você xingava muito de tanta dor que você sentia com aquela coisa queimando a sua pele. Dói demais. Se você achava tomar Benzetacil era ruim, é porque estas malditas bolinhas de fogo nunca caíram em você.

terça-feira, 26 de julho de 2016

sábado, 23 de julho de 2016

Gyff & Tsumomo #64

- Por que não podemos?
- Oras. Você sabe o que pode acontecer.
- Você é uma Succubus. Você não pode extrair a energia de uma mulher.
- E você sabe que eu sou diferente das outras Succubi, não sabe?

Na verdade, Lina tinha consciência de que Tsumomo era uma hermafrodita, e portanto não era possível saber qual seria o resultado dessa experiência que ela nunca tivera, uma vez que sempre foi tratada como se fosse Succubus normal. Até mesmo pelo próprio finado marido, que também era a única outra pessoa que soubera de seu segredo.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Bovinos Errantes

Era uma manhã de sol no interior do estado do Rio de Janeiro. Tudo parecia normal até que José Eustáquio, um caminhoneiro que estava em direção a BR-116. Tudo estava normal até que ele viu bovinos correndo no asfalto. O som das milhares de patas dos animais ecoava fortemente e ele já tinha escutado-as muito antes de ter visto os animais que pareciam acompanhar a estrada.

Eles pareciam ocupar as duas pistas e seguir o fluxo como se fossem um grupo muito grande de carros. Era particularmente curiosos, e Eustáquio, apesar da carga no veículo, certamente foi atrás. Até porque eles estavam no mesmo sentido.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Pensando Sobre Matemática #59 - Brincando de Geometria Neutra

Geometria é muito doido, mas depende muito do jeito que você olha. Se você fica pensando em medidas. Você está olhando para a parte chata. A parte legal é a que gera esse tipo de coisa.


Eu fiz esse balaio de gato aí usando o OpenEuclide

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Claudio no Lugar Impróprio

Cláudio recebeu um panfleto a caminho do trabalho. O panfleto dizia algo do tipo "Casa de Massagem", tinha algumas fotos de mulheres, e uma foto bem grande de um rapaz recebendo massagem de mãos femininas.

Era óbvio que aquilo era um panfleto de um prostíbulo, e ele até conseguiu perceber isso, só que ele estava realmente precisando de uma massagem. Que lugar melhor que uma "Casa de Massagem" para obter esse serviço?

domingo, 17 de julho de 2016

Gyff & Tsumomo #63

- Tsumomo Tsagura. A Succubus que traiu sua terra natal para poder viver um amor que ela mesma sabia que não poderia ser consumado. Na verdade a reputação dela geralmente a precede, e é um bocado estranho que você nunca tivesse tido noção de quem ela é. - Disse Cowboy, enquanto Gyff beba um gole de sua Fermentus.
- Só busco sobreviver, Cowboy. Ela nunca fez diferença na minha vida. - Respondeu o ladino. Ele e o taverneiro conversavam entre goles de suas bebidas.
- Podemos dizer que fez, pois graças a ela os humanos venceram as antigas guerras e Amaquabá é a principal cidade desse mundo.
- Não faz diferença pra mim, que vi meu pai matar minha mãe e depois me abandonar como se não fosse ninguém.

Cowboy pausou por um pequeno tempo. Na verdade Gyff sempre esteve naquele bar desde que ele consegue se lembrar. O próprio taverneiro adotou a criança e a ensinou o que podia, apesar dele estar sempre indo e vindo. No final das contas, ele nunca enxergou a criança como criança mesmo, e sim como um amigo.

terça-feira, 12 de julho de 2016

domingo, 10 de julho de 2016

Gyff & Tsumomo #62

Tsumomo acordou ainda na enfermaria, Ela conseguia se lembrar de brigar contra a força de Shia e de sentir uma dor no ombro, mas não lembrava de ter dormido. Ela também não lembra de ter trocado de roupa. Estava usando vestes brancas de pacientes comuns, e ainda deitada, via os enfermeiros e pacientes transitando, sentindo uma certa inveja daqueles que á estavam de alta. A gueixa então revelou o ombro esquerdo e viu a marca mágica deixada por Higuma anteriormente.

"Até parece que ela sabia o que ia acontecer e resolveu me marcar de alguma forma." - Pensou Tsagura. "E agora? Como irei explicar esse tipo de coisa para a Lina? Ela vai me odiar ainda mais, e com razão."

sábado, 9 de julho de 2016

Olhando Errado

Carlos estava sentado em um restaurante japonês com alguns amigos. Todos comendo rodízio porque estavam muito a fim de encher o rabo de peixe cru. Os amigos dele na verdade ficavam pedindo só aquele tal e hot filadélfia enquanto Carlos mesmo gostava de um sushizão e um sashimi mesmo. Esse bagulho de colocar queijo na comida nunca foi seu forte.

Só que coisas inusitadas acontecem com ele. Nesse dia, ele estava sentado de costas para a parede e pode ver uma mulher entrando no resutarante. Ela tinha um volume bem grande de seios e certamente chamava a atenção por causa disso, mas ele estava olhando mesmo pros olhos cor de mel dela. Ela reparou no olhar penetrante do jovem e foi até ele tirar satisfações.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Dá o Play Macaco #59 - Thyme

Eu sou estranho mesmo. E lá to eu no Japão de novo.


Vamos com uma bandinha bem simplória que já acabou.

Passos de Insanidade

A água corre por um rio rumo ao mar devido a diferença de pressão. O movimento da natureza é gerado pelas diferenças de pressão e energia, Se o movimento da humanidade for gerado da mesma forma, a tendência é a estagnação, mas isso não acontece, a não ser que a própria estagnação gere a pressão necessária para o movimento.

E o choque, a transferência de energia de um corpo para outro. Juntamente com uma série de efeitos de colisão que desencadeiam os mais variados eventos. Devido as leis da gravitação, essas colisões são praticamente inevitáveis, uma vez que seria necessária muita energia para escapar do ponto de atração que seria outro corpo.

E se a resposta não estiver na linearidade? Veja bem, andamos nas direções que temos que andar devido aos compromissos coletados ao longo de nossos dias, porém todo viajante sabe que o destino jamais será tão importante quanto a jornada, cujas surpresas podem trazer resultados muito mais supreendentes dependendo da sua reação aos milhões de estímulos externos. Qual é a graça de ir trabalhar se você não é capaz de sorrir?

A vontade de acenar para um motorista de ônibus que mal poderia esperar que um gesto de bondade pode vir de um desconhecido. Se a teoria do caos for verdadeira e o bater de asas de uma borboleta pode gerar um furacão, por que não é possível que um simples bom dia possa fazer a diferença na vida de uma pessoa, por mais que ela esteja a muitos quilômetros de você.

Insanidade se define por repetir um experimento e esperar um resultado diferente. Todos os dias fazemos os mesmos experimentos e obtemos resultados diferentes. Será que o dia seguinte é o suficiente para mudar todo o panorama de um experimento? Será que eu vejo as mesmas pessoas no mesmo meio de transporte todo o dia? Quantas delas não estavam ali ontem e quantas delas não estarão ali amanhã?

Eu continuo dando um passo de cada vez. No próximo, mas sei bem aonde eu quero chegar.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Polêmica #61 - Onibus x Carros

Hoje é terça feira e a polêmica está rolando solta pelo Brasil. Também não é a toa, devido a gigantesca contradição de ações de todas as esferas governistas. Só que essas polêmicas estão mais batidas que aquele limão de fazer caipirinha.


Mas felizmente nós não vamos falar sobre isso porque eu não quero um bando de gente aqui vomitando aquelas opiniões mais reiteradas do que eco em sala fechada. Nós somos contra-intuitivos e nós pensamos em coisas diferentes, e hoje vamos falar do conflito entre ônibus e carros no transito!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Hardcore Devel #60 - LDAP

Quando você precisa autenticar em uma aplicação, um banco de dados de credenciais está lá para verificar se a informação que você está colocando é realmente verdadeira. Só que isso não é o suficiente para garantir permissões de acesso corretamente.


E enquanto isso a Shodan fica de olho nessa zueira aí que você ta fazendo.

domingo, 3 de julho de 2016

Pensando Sobre Matemática #58 - PEMDAS cap. 2

A matemática tenta, mas tenta muito fortemente, fazer todo o sentido do mundo sendo completamente lógica. Baseado em diversos fundamentos lógicos extensíveis a diversas área diferentes da ciência,

Só que todo esse argumento caiu por terra após Gödel anunciar a incompletude da matemática. Existem coisas que nunca serão provadas mas que serão verdade, eu diria que esses são os axiomas mas é um pouco pior, pois essas coisas estão dentro de um sistema de axiomas. Pra piorar, você náo pode provar que um sistema axiomático é verdadeiro. Você apenas pode provar quando ele é falso e bom, um sistema axiomático falso não serve pra nada.

E mesmo assim, como em toda a ciência a matemática tem convenções e hoje vamos destrinchar uma delas, o PEMDAS.

Gyff & Tsumomo #61

- Gyff Mjord, um dos melhores executores de tarefas existentes. O seu nome era esperado, mas o seu envolvimento até esse ponto certamente não era. Na verdade não se esperava que você entrasse uma segunda vez na academia, e como se não bastasse entrou uma terceira vez. Você certamente foi e aproximando mais e mais do que está acontecendo. - Someisa executava um longo discurso. - E você ainda vem me perguntar o que você está fazendo no meio disso tudo?

O ladino ficou perplexo, enquanto Someisa prosseguiu com suas palavras.

sábado, 25 de junho de 2016

Insônia


"Todo dia a insônia  
Me convence que o céu  
Faz tudo ficar infinito  
E que a solidão  
É pretensão de quem fica  
Escondido, fazendo fita"

sábado, 18 de junho de 2016

Aleatoriedades - O abismo



- O que houve?

- Nada, apenas estou triste...

- O quão triste?

- Triste o bastante para voltar a escrever...

- Suponho que seja bem triste então...

- Pois é...

- Mas já pensou que isso pode ser uma coisa boa?

- Talvez seja, talvez apenas signifique que eu estou voltando...

- Voltando?

- É... pro abismo...

- Talvez, mas só tem um jeito de saber...

- É só tem um jeito.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Pensando Sobre Matemática #57(?) - PEMDAS (ou, Quando a Matemática está além da lógica)

Boa tarde, criançadaaaaaa!

Aqui quem está falando NÃO É O PEDRO! Não! É o John, vulgo J. E eu NÃO TENHO nenhuma autoridade para falar sobre Matemática. Mas como o Pedro não posta nada há muito tempo, meus distúrbios mentais me obrigam a criar esse post! Êeeeeee!

Ah, a Matemática... Como ela é bela. Como ela é incrível. Como ela é extremamente necessária e plenamente inútil ao mesmo tempo.

O raciocínio lógico e abstrato voltado a estudar quantidades, medidas, espaços, estruturas, variações e estatísticas (PEDIA, 2016, Matemática) é maravilhoso. Porém, a disciplina 'Matemática' e suas convenções são infernais e causam problemas a nós, reles estudantes com processos cerebrais anômalos, desde os tempos antigos. Pois a disciplina como conhecemos vai além do puro raciocínio lógico, empregando convenções obscuras e sem sentido, e invenções abstratas surgidas da necessidade de explicar determinadas relações entre valores.

Falarei hoje então de algo que assombra muitos jovens e adultos até hoje, arruinando seus pensamentos simples e lineares, suas soluções lógicas e retas, através de uma convenção aleatória: PEMDAS.

PEMDAS 


Muita gente não sabe, ou esqueceu, que as operações matemáticas em uma equação não podem ser encaradas de modo arbitrário. Existe uma coisa chamada "Ordem de Operações" e é ela que define como devemos desbravar o redemoinho de desespero e dor das expressões matemáticas.

Essa "Ordem" pode ser expressada através do acrônimo PEMDAS, que também é assim em Inglês Americano (mas é BODMAS em Inglês Britânico). E esse acrônimo se dá por:

P - Parênteses (Parentheses(AmE) ou Brackets (BrE))

Ou seja, a primeira coisas que você vai resolver numa expressão matemática é o que estiver dentro de parêntesis. O que faz todo sentido pois os parêntesis foram designados para indicar algo que está "dentro" daquela expressão, um nível mais profundo de valores e coisas, e portanto, obviamente, devem ser resolvidos antes para que o seu resultado possa se tornar parte da expressão principal.

Quando você olha para as operações dentro dos parênteses, lembre-se que você está encarando uma nova expressão matemática que deve, portanto, ser resolvida obedecendo a "Ordem de Operações" normalmente fazendo o PEMDAS de novo. Ou seja, quando você vê alguma coisa entre parênteses dentro de alguma coisa entre parênteses você tem que resolver aquilo primeiro. E se houver algo dentro desses segundos parênteses, eles também tem que ser resolvidos segundo a ordem. Cada parênteses representa um nível mais profundo da expressão, tipo um expressinception da vida. O uso de colchetes ou chaves serve somente para facilitar a visualização do que está dentro do quê, sendo opcional.

E - Expoentes (Exponents (AmE) ou Orders (BrE))

Beleza, aí depois que você define onde vai começar graças aos parênteses você tem que começar a fazer de fato algum tipo de cálculo, afinal essa expressão matemática não vai se resolver sozinha, rapaz. E então o que você faz? O que você faz além de deitar na sua cama em posição fetal, se cobrir, e começar a chorar feito um bebê, se perguntando porque você é obrigado a seguir com isso e encarando o vazio e a falta de razão da sua existência perante o Universo?

Você resolve os expoentes! Por quê? Porque foda-se! Porque eu mandei! Porque é assim que eu disse que tinha que ser, e você não tem nenhuma ideia melhor! Não, eu sei que você ACHA que tem, mas você não tem. Cala a boca e senta lá, Cláudia.

Os expoentes são aquilo que as pessoas conhecem normalmente como "Potência", tipo 22, e "Radiciação", tipo 2. Na verdade a "Radiciação" nada mais é que um potência com expoente fracionário, ou seja: 2 é um jeito de dizer 212. Daí tudo que é expoente entra aqui.

M - Multiplicação (Multiplication)
D -  Divisão (Division)

 Depois de resolver os expoentes você vai resolver as multiplicações e divisões. A ordem que você resolve cada um é ditada somente pelas próprias regras. Normalmente não importa se você resolve as divisões ou multiplicações primeiro. Mas você tem que resolver todas as operações desse tipo antes de passar para o próximo passo.

"Multiplication" e "Division" são iguais em Inglês britânico e americano, mas no Inglês britânico o acrônimo é falado com a Divisão antes da Multiplicação, por isso boDMas, e não boMDas. Como a ordem que você resolve na própria expressão é opcional e/ou regida pelas próprias regras, dá no mesmo.

A - Adição (Addition)
S - Subtração (Subtraction)

Depois que você fizer tuuuudo isso, então, e só então, você vai fazer a parte simples e fácil da parada. A parte que você não precisa nem ser muito proficiente no uso de calculadoras para resolver. As velhas e conhecidas "soma e subtração".

A ordem que você soma e subtrai as coisas também só depende das próprias regras de soma e subtração. Mas normalmente não importa se você soma ou subtrai as coisas primeiro também.

***

Mas então, por que, raios, PEMDAS? Digo, se essa é a regra decidida pela Comunidade Científica então deve haver uma lógica impecável por trás disso, né? Não é? Não é?! Não é, porra?!

Não, não é. Tudo não passa de uma CONVENÇÃO. Exatamente, meus caros... Sabe aquelas coisas que a galera de Exatas ama zoar na galera de Humanas? Que uma coisa só é uma coisa porque nós decidimos que seria daquele jeito pra facilitar a comunicação do pessoal? Que não há razão lógica por trás das decisões? Pois então... É A MESMA COISA com PEMDAS.

Uma mera convenção... Poderíamos até dizer que se trata de uma construção social (LOL) que surgiu da necessidade de haver um padrão para escrever as expressões matemáticas e resolvê-las de modo uniforme por qualquer um. E ao invés de usarem algum tipo de racionalização, algum tipo de lógica, nem o raio de uma notação... Não, tudo foi resolvido com uma convenção. Uma decisão arbitrária que foi passada em frente.

Então, sabe quando você resolve uma expressão matemática e decide que seria legal ir resolvendo as operações da esquerda para a direita, afinal é assim que escrevemos, e no final erra a resposta?
Bem, a sua resposta não está exatamente errada, meu caro. Ela só está diferente porque você não resolveu a expressão na ordem convencional. Porque a ordem que você usou é diferente da ordem favorita de quem corrigiu. Só. Por causa. Disso.

E é por isso, caríssimos leitores, que quem pensa sobre Matemática é o Pedro, e não eu. Obrigado e voltem sempre.

Parcimônia Frenética #19 - Aventureiros (Como Karlrock acabou na prisão)

A anã de cabelos ruivos estava incomodada por estar sentada há tanto tempo, e também por estar ouvindo tantas coisas estranhas e inimagináveis sobre o passado de Karlrock. Ela acabou não se aguentando mais e levantou no momento que o homem ia recomeçar a falar, interrompendo-o.

- Tudo bem... - ela disse, começando a andar de um lado para o outro. - Pode continuar... Só estou esticando as pernas.

Karlrock pigarreou e aproveitou para esticar as pernas e as costas.

- Certo... Então...

"Nós estávamos separados e Serenna não estava nem um pouco contente com a situação. Quando havia alguma missão para o meu esquadrão nós passávamos vários ciclos vermelhos fora, protegendo as estradas ou cidades afastadas. E ela ficava sozinha e inquieta na capital...

Eu não sei o que ela fez, mas em algum momento ela estava tomando um sermão disciplinar no salão dos sargentos e esbarrou com um líder de um esquadrão de campo diferente do meu. E ela reconheceu aquele homem. Era um dos homens que tinha atacado a nossa vila.

É claro que depois disso ela não podia simplesmente esperar quieta o meu retorno e conversar comigo sobre isso. Não, ela foi atrás. Começou a fazer perguntas por aí, invadiu os arquivos para pesquisar sobre o homem e seu esquadrão nos livros. Se meteu em todo tipo de confusão... Mas a bagunça que ela criou foi tamanha que ela acabou desertando e fugindo da capital para evitar ser presa, ou provavelmente pior.

Então na minha seguinte volta para a cidade, eu não encontrei Serenna me esperando no alto dos muros. E sempre que ela sabia que meu esquadrão ia voltar, e ela sempre arranjava um jeito de saber, ela sempre me esperava nos muros do portão. Eu já comecei estranhando dali, portanto fui procurá-la. Depois de não encontrá-la em lugar algum, eu comecei a perguntar para os outros soldados da patrulha da cidade. Eventualmente eu acabei descobrindo que havia acontecido algo muito sério e ela havia desertado e fugido.

Aquilo me deixou extremamente preocupado e desconcertado. Eu não fui capaz de descansar até descobrir o que estava acontecendo. Seguindo os passos de Serenna eu notei que ela havia deixado uma trilha para mim. Páginas arrancadas, relatórios velhos, pessoas que tinham recebido ordens para me contar coisas... Eu fui capaz de encontrar tudo que ela tinha descoberto.

Os homens que atacaram minha vila... Eram homens do exército real. Eles estavam viajando até a fronteira do reino para reforçar as tropas alocadas lá, pois era uma época de risco de guerra com o reino vizinho. E eles tinham permissão para 'coletar' quaisquer recursos necessários das pequenas cidades próximas da fronteira.

Isso quer dizer que os oficiais superiores e o próprio rei ficaram sabendo do que aconteceu com a minha vila, mas eles concederam perdão àqueles homem. Afinal eles tinham permissão para pegar aquilo que eles achassem necessário. Ninguém se importou, eles não foram punidos pelos homens e mulheres inocentes que mataram. Tudo foi varrido para baixo dos panos, desculpas falsas foram dadas, eram tempos de guerra afinal...

Diferente de Serenna, eu fui capaz de manter minha calma. Eu levei aquele assunto aos superiores. Eu tentei fazer com que a verdade fosse exposta e que os culpados fossem punidos. Mas mesmo eu tempo provas, mesmo eu sendo uma testemunha viva do ocorrido, ninguém me levou a sério. Aqueles que concordavam comigo, tinham medo de tomar alguma atitude. E a maioria dizia que eu deveria deixar o passado no passado e parar de reclamar, que não havia nada de errado. Nada de errado...

Eu portanto pensei que se aqueles responsáveis não fariam nada, então eu deveria tomar as medidas necessárias com minhas próprias mãos... Eu encontrei três deles... Não me orgulho disso... Não me orgulho do que fiz, hoje... Mas, naquele dia, eu estava repleto com a certeza de que justiça estava sendo feita... Só mais tarde eu fui entender que o que eu fiz não passava de vingança."

Karlrock apresentava uma expressão dolorida. Ele parou por um momento, fechou os olhos, e fez uma prece em silêncio. Então respirou fundo e prosseguiu.

"Talvez tenham sido os deuses, mas eu fui impedido e capturado por guardas da patrulha antes de matar aqueles homens. Se eu tivesse me tornado um assassino, ainda mais tendo matado soldados e oficiais superiores, eu teria sido executado no mesmo dia. Mas o que eu fiz... Eles... Eles precisavam discutir..."

Lanma fez uma careta confusa e parou de andar. Ela encarou Karlrock e pôs as mãos na cintura.

- O que, exatamente, você fez? - ela perguntou, duramente.

Karlrock respirou profundamente de novo, claramente incomodado com a pergunta.

- A minha intenção... Eu queria que eles sofressem tudo que fizeram as pessoas de minha vila sofrerem... Tudo que eu sofri. A não ser que você queira detalhes grotescos, eu posso resumir e dizer que aqueles três homens não estavam mortos, mas não mais se recuperariam por completo sem o auxílio de magia poderosa.

Lanma balançou a cabeça negativamente e sentou novamente, dessa vez mais próxima de Karlrock.

- Não... Pode deixar os detalhes grotescos de lado. Mas, Karl... Eu não julgo você. No seu lugar, eu teria feito mesmo. E eu teria achado certo.

Karlrock anuiu com um aceno da cabeça.

- Tudo bem, Lanma... Mas eu vou continuar achando que não foi certo. Que não foi justo.

A anã bufou e o homem deu um sorriso cansado.

"E foi assim, minha cara companheira de aventuras... Que eu fui preso. E fiquei preso por muitos dias e muitas noites."

- Você está soando como Phyllander agora... - resmungou a anã.

Karlrock quase esboçou uma risada.

"Como meu crime era muito grave, mas envolvia muitos eventos obscuros e confusos, e também não havia resultado em nenhuma morte, eles me aprisionaram. Com a desculpa de que ainda estavam decidindo minha punição, mas com a intenção óbvia de me deixar lá para apodrecer."

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Parcimônia Frenética #18 - Aventureiros (Até a capital e o exército real)

"Serenna e eu saímos daqui assim que recuperamos nosso fôlego, deixando nada para trás além de nosso passado destruído e em chamas. Mas nunca vou esquecer dessa colina, dessa árvore, e daquela promessa.

Caminhamos meio sem rumo por dias. O pai de Serenna era uma caçador, então ela reconhecia algumas ervas comestíveis e sabia montar armadilhas simples. Foi isso que nos manteve vivos até acharmos uma cidade.

A cidade que encontramos não era muito maior do que a nossa mas, para quem tinha vivido a vida toda numa vila com não mais do que 15 famílias, aquele lugar era enorme e ensurdecedor.  Sujos, maltrapilhos, e com aparência faminta fomos imediatamente taxados de garotos de rua e possíveis ladrões. A guarda da cidade era maior e mais organizada, não demorou muito para ouvirem de nós e decidirem tomar uma providência.

Talvez os deuses tenham decidido que tínhamos passado por provações demais até então e que, portanto, já era hora de um merecido descanso. O guarda mandado para cuidar do problema, nesse caso eu e Serenna, era um homem honesto e gentil. Ele nos ofereceu comida e água, e nos perguntou quem éramos e o que estávamos fazendo ali antes de tomar qualquer atitude. Ele se ofereceu para nos ajudar até onde fosse capaz, e então pedimos que nos arranjasse um modo de chegar até a capital de Campamerelo.

O guarda, cujo nome me arrependo de não lembrar e para quem ainda tenho uma grande dívida, nos conseguiu um lugar na caravana que enviava produtos para uma cidade de médio porte e indicou seguir as caravanas de caixeiros viajantes que normalmente faziam a sua rota entre as cidades mais populosas em sentido a capital.

A viagem até a capital não foi o que eu chamaria de 'desprovida de obstáculos'. Fomos enganados por trapaceiros, nos perdemos, precisamos arrumar trabalhos dos menos gratificantes e confortáveis para garantir nossas passagens em diversos lugares, tivemos que defender os mercadores de bandidos e animais selvagens diversas vezes... Mas eu não diria que tais coisas foram meros incômodos sem seu valor. Graças a tais eventos, eu e Serenna fomos capazes de treinar nossos corpos, mentes, e habilidades de combate. E tais capacidades foram muito úteis no resto de empreitada, e ainda hoje me são tão úteis quanto.

Finalmente chegamos em Campamarelo, depois de uma quantidade de dias que ultrapassou nossa capacidade de atenção para contá-los. Podem ter sido alguns dias, alguns ciclos da lua azul, ou talvez até alguns ciclos da lua vermelha... Eu realmente não sou capaz de lembrar cada dia que passamos nas estradas e cidades pelo meio do caminho. Mas nada disso importava também, pois havíamos chegado ao nosso destino.

Eu acreditava que uma vez na capital Serenna e eu teríamos uma espécie de despedida. Ela tinha parentes que supostamente moravam lá, que ela poderia buscar. E uma jovem mulher sempre poderia buscar um emprego de camareira numa estalagem, ou até uma garçonete numa taverna. E Serenna não era nenhuma flor frágil e delicada, ela poderia fazer muito bem o que bem quisesse. Mas a última coisa que eu imaginaria numa pessoa tão... tão... expansiva... e com pouquíssimo apreço pelas normas.. seria que lhe surgisse uma inclinação militar de última hora.

Para minha surpresa, porém, Serenna foi comigo até ao quartel e, ao invés de se despedir de mim, entrou no centro de alistamento logo atrás.

Ambos fomos avaliados e considerados aptos ao treinamento. Fomos imediatamente enviados para o arsenal para buscar nosso equipamento. E assim que tive um momento a sós com ela imediatamente indaguei sobre a loucura que estava fazendo.

O exército de Campamarelo não tem nada contra aceitar mulheres, desde que essas sejam consideradas fisicamente aptas, e passem por todos os treinamentos e testes. Assim como qualquer um que queira a cama quente e as três refeições diárias que o serviço oferece. Mas mesmo assim são poucas que demonstram a constituição e impulso agressivo necessários para considerar uma vida de soldado. E portanto havia uma clara discriminação e óbvios riscos para a minoria feminina num ambiente dominado pelos homens.

Serenna ignorou todas as minhas preocupações e todos os meus argumentos. Ela declarou calmamente que não havia possibilidade de me deixar sozinho, e que ali acabava a discussão."

O canto do lábio de Lanma se contraiu numa sombra de um sorriso.

- Gosto dessa Serenna. Garota forte. Decidida.

No instante que soltou a frase, porém, uma caravana de pensamentos atravessou sua mente em alta velocidade. E ela subitamente começou a se preocupar com a existência de Serenna e seu possível futuro naquela história, mesmo sem saber exatamente explicar o porquê desse sentimento.

- Sim... Eu a descreveria como teimosa. Mas acho que "forte e decidida" são modos de enxergar a situação. Mas enfim...

"Uma vez que Serenna estava decidida no que faria e nada que eu dissesse mudaria seus planos, nada mais pude fazer a não ser aceitar e lidar com isso da melhor maneira possível.

O treinamento era pesado e inclemente. Sendo projetado justamente para separar aqueles mais fracos, que acabavam desistindo ou sendo expulsos por serem incapazes de cumprir as ordens. Muitas pessoas se alistavam pelo abrigo e pela comida, com a esperança de um trabalho 'fácil' na patrulha da cidade, mas o exército real de Campamarelo não poderia ser composto por soldados fracos e indisciplinados. Portanto treinamento e testes duros como esses eram necessários para separar somente aqueles realmente capazes de serem soldados das multidões que se alistavam.

A experiência que adquirimos na viagem foi especialmente útil, facilitando nossa passagem pelos testes. E também nossa passagem pela rede de intrigas e violência entre os aspirantes a soldado mais brutos e menos inteligentes que queriam diminuir a concorrência. E fomos então aceitos no exército real de fato ao final do treinamento.

Eu precisava ir para a divisão das tropas de infantaria de campo, a divisão que exigia maior esforço e mais arriscada do exército real. Pois a minha intenção era ser enviado para proteger as cidades além, e a espada e escudo eram minhas armas de escolha. Portanto, Serenna decidiu ir para as tropas de arquearia de campo, uma vez que o arco era sua arma de escolha.

Dessa vez eu não discuti com ela, mas minha preocupação era sempre crescente. O abuso e discriminação que ela sofria por ser mulher aumentaram consideravelmente depois que saímos do grupo de treinamento e nos juntamos aos veteranos do exército real. E o capitão responsável pelas tropas de campo era um homem desagradável que era contra a presença de mulheres no exército. Essa atitude de um superior certamente se refletiria em seus sargentos e então nas tropas, o que tornaria o ambiente ainda mais nocivo para uma mulher.

Infelizmente minhas preocupações se mostraram corretas... E após alguns poucos ciclos da lua azul o abuso constante e atitude agressiva dos oficiais e soldados conseguiram quebrar até o espírito extremamente teimoso e inflexível de Serenna. Ela acabou se sentido sem opções além de mudar de divisão, e então ela foi para a divisão da patrulha dos muros, que era composta pelos melhores arqueiros entre os soldados.

Como a minha divisão estava constantemente fora da capital e a patrulha dos muros nunca saia de lá, finalmente eu e Serenna nos despedimos e tomamos caminhos distintos... Nos encontramos pouquíssimas outras vezes depois disso.

A última vez que a vi, foi quando ela foi me visitar as escondidas na prisão..."

Lanma arregalou os olhos e respirou fundo. Mais uma vez pega de surpresa por uma declaração de Karlrock naquela história. Sua mente era simplesmente incapaz de conceber ele, Karlrock, o paladino da Justiça, numa prisão.

- Então... Você acabou se tornando um carcereiro? - ela perguntou apesar do modo de Karlrock ter falado tivesse deixado relativamente claro que ele não estava do lado de fora das grades.

- Não... Eu estava preso, é claro.

Lanma estava sem palavras.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Parcimônia Frenética #17 - Aventureiros (Lembrança de uma promessa sob o salgueiro)

"A minha mãe sempre foi um mistério para mim. Ela trabalhava todos os dias o dia inteiro na lavoura, e ainda fazia comida, costurava as minhas roupas, e cuidava de mim. Ela nunca parecia cansada, ela nunca reclamava. Ela sempre tinha um sorriso para mim.

Meu pai era um dos guardas da patrulha da cidade. A cidade era pequena, então nós não tínhamos um governante ou algo do tipo. De tempos em tempos, uma comitiva do rei de Campamarelo vinha buscar parte dos nossos produtos como imposto. Mas o rei Garlan não podia dispor de tropas numa cidade tão afastada. Então a patrulha era um bando de homens locais mal armados que decidiram se unir para proteger suas terras e suas famílias.

Um dia, um grupo de homens bem armados e com armaduras de metal foi visto fazendo acampamento próximo da cidade. Todos ficaram apreensivos. Como eu era uma criança, pouco era dito para mim sobre isso.

Eu só soube que meu pai tinha ido até o acampamento para tentar descobrir alguma coisa quando minha mãe me contou que ele estava morto. Foi o que ela me disse quando eu perguntei sobre ele não ter voltado para casa depois de um dia:

- Karlrock, seu pai está morto.

Simples assim. Eu não sabia o que sentir, nem o que fazer. Só fui chorar horas depois quando encontrei uma menina chamada Serenna que morava na fazenda ao lado e era uma das poucas crianças da cidade que eu considerava minha amiga. Eu contei para ela como se comentasse sobre o clima, então ela me abraçou e chorou. Daí eu chorei também."

A expressão de Karlrock era impassível. Se algum sentimento acompanhava aquela memória, Lanma era incapaz de notar. Talvez por isso ela não conseguisse sequer imaginar o pequeno Karlrock da história chorando nos braços de sua amiga.

"Dois dias depois, os homens invadiram a cidade. Eles vinham com cavalos, machados, espadas, arcos, e armaduras de metal... A patrulha da cidade foi inútil. Um bando de homens sem treinamento com foices, forcados, e pedaços de madeira crua como clavas. Sem nenhum tipo de armadura. Foi um massacre.

As pessoas que sobraram vivas da investida inicial começaram a fugir. Minha mãe, que estava escondida em casa comigo até então, mandou que eu corresse para a casa da Serenna e fugisse com ela e sua família. E então ela pegou o machado que ficava ao lado da porta e saiu de casa.

Ela marchou até os homens que invadiam a cidade e brandiu o machado com toda sua força quando um deles cavalgou em sua direção. Ela acertou a pata dianteira do cavalo, que caiu e derrubou o homem que o montava. A última vez que a vi ela estava cravando a lâmina do machado na cabeça do homem caído.

Eu fugi. Fui até a casa de Serenna, mas não havia ninguém lá. Corri para o campo, para me esconder entre o trigo alto, mas alguns dos invasores me viu e cavalgaram na minha direção. O pai da Serenna surgiu do nada e acertou a cabeça de um deles com uma pedra que ele arremessou. Foi então que alguém pegou minha mão e começou a puxar. E fui puxado, correndo sem parar por uma quantidade de tempo que eu não fazia ideia que era capaz de correr.

Só quando paramos que eu vi que quem estava segurando minha mão era a própria Serenna. Atrás de nós ecoavam gritos da nossa cidade que começava a queimar. E a nossa frente a planície extensa ao pôr do sol. A única coisa que vimos que chamava nossa atenção foi essa colina aqui, com esse salgueiro. E então viemos para cá.

Quando chegamos aqui finalmente paramos para descansar. Sentamos no chão e observamos nossa cidade, nossa vida, queimando ao longe. E eu lembrei da minha mãe, saindo de casa com o machado nas mãos. A coragem dela ao enfrentar aqueles bandidos. E eu me orgulhei dela.

Então eu pensei: se houvessem mais homens no exército de Campamarelo, talvez cidades afastadas e pequenas como a minha pudessem receber um contingente. Mesmo um número bem pequeno, para treinar uma milícia local e planejar defesas. E foi então que eu decidi e prometi para Serenna que eu me alistaria no exército e serviria ao rei Garlan para impedir que aquilo acontecesse com mais alguém."

Imediatamente a expressão de Lanma se modificou, abalada pelo choque. Aquilo não estava certo, Karlrock era um guerreiro divino, servo da Justiça. E não um soldado do rei.

- Calma, calma, calma! - disse ela ao se recuperar se sua careta boquiaberta de sobrancelhas erguidas. - Você não tinha dito que foi aqui que decidiu servir a Justiça...? O que tem a ver o exército de Campamarelo com isso?!

Karlrock acenou com a cabeça, com os olhos cerrados e expressão calma.

- A minha intenção desde quando jovem era servir a Justiça, sim. E eu acreditava que me juntar ao exército de Campamarelo era de fato o meio mais eficiente para esse fim. Porém eu não sabia ainda o que de fato era a Justiça.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Parcimônia Frenética #16 - Aventureiros (De encontro a Karlrock)

Lanma levantou-se rapidamente, trazendo seu machado num ato quase reflexo.

- Karlrock! - ela bradou olhando em volta apreensiva.

- Ele deve ter ido fazer suas necessidades longe do riacho. Não há motivo para ficar agitada.

- Hmmm.... Uh-hmm, deve ter sido isso mesmo. Melhor você ficar calma, moça... Senão as pessoas podem começar a suspeitar de coisas... - cantarolou de forma zombeteira o halfling.

- Cale-se, Phyllander! - rosnou a anã em resposta.

- Pe-pe-pessoal! Ca-calma! P-por favor... Não se... Não se... Não se alterem... -  suplicou Mirdonis quase num sussurro enquanto torcia a manga do robe nas mão aflito.

Nerani suspirou, aborrecida, e se levantou. Prim alegremente saltitou para o topo de sua cabeça enquanto ela investigava os arredores e observava ao longe.

- Pronto. Ali. Não precisam de nada dessa confusão. - disse ela num tom monótono enquanto apontava para algo.

Todos se viraram para o local apontado pela elfa e não demoraram a ver do que se tratava. Não muito longe dali erguia-se uma pequena colina, e no topo dela uma grande e curvado salgueiro. E sob o salgueiro, aparentemente encarando-o em silêncio, a inconfundível figura grande e austera de Karlrock.

A anã, o halfling, o mico, e o jovem de robes compridos observaram a cena com curiosidade. E todos, menos mico, começaram a ter seus pensamentos intrigados pelos motivos que levariam o pragmático homem a fazer aquilo. O mico só pensava se ele traria comida quando voltasse.

- Ele parece... Pensativo... - relatou Mirdonis espremendo os olhos para tentar enxergar melhor.

- Mistério solucionado. Me acordem quando forem sair. - requisitou o halfling despreocupadamente e logo voltou a se deitar e fechar os olhos.

Nerani voltou a sua posição de reflexão e suspirou. Prim rapidamente se pôs em seu colo.

Mirdonis entortou os lábios e sentou-se novamente com o livro nas mãos, mas sem tirar os olhos da figura sob a árvore na colina. Ainda preocupado com a situação.

E Lanma continuou de pé, observando Karlrock ao longe e imaginando o que estaria acontecendo.

- Você deveria ir lá falar com ele... - sugeriu o halfling num tom escarnecedor sem abrir os olhos, claramente se dirigindo a anã.

- Eu não quero atrapalhá-lo. - respondeu seriamente a anã sem aparentar ter se dado conta no tom de escárnio da sugestão enquanto considerava verdadeiramente fazê-lo.

Mirdonis entortou os lábios para um lado e para o outro, remexeu os pés, e abriu e fechou o livro a esmo. Tentou não falar nada, mas por fim não conseguiu.

- B-bem! Pode haver mesmo um problema e... E... E... E... E alguém deve-... Deveria mesmo ir lá e f-f-f-fa-f-falar com ele. -  acabou exclamando num impulso.

Lanma olhou para o jovem, ainda um pouco indecisa, e suspirou.

- Certo. Eu vou. - ela disse e começou a vestir sua armadura de pele de urso.

A anã pôs o inseparável machado no ombro e partiu em direção a colina. Acompanhada pelo olhar ansioso do jovem de robes compridos, e espiadas dissimuladas da elfa e do halfling. Ela atravessou o campo de grama alta de forma direta e decisiva, apesar de ter da vontade de desistir e voltar ter passado algumas vezes por sua mente.

Ela subiu a pequena colina sem esforço, e se aproximou com cuidado do homem das placas de metal. Pisou forte e respirou pesadamente enquanto chegava, para anunciar sua presença, mas Karlrock continuou encarando a árvore. Os ramos de folhas amareladas que desaguavam profusamente pela copa da árvore chegavam quase até a cabeça do homem.

- Está tudo bem, Karlrock? - perguntou a anã num tum estranhamente gentil para ela - Você sumiu sem dizer nada e veio aqui para um ponto mais alto. Há possibilidade de sermos atacados? Procura inimigos? - completou apressadamente num tom mais rígido.

Karlrock pôs a mão no tronco da árvore de forma cuidadosa e respondeu sem olhar para a anã.

- Foi aqui. Aqui que eu decidi servir a Justiça.

O homem falou em tom tênue. E então ele olhou para o horizonte.

Lanma acompanhou o olhar do homem e pensou ter visto as ruínas da cidade disforme ao longe naquela direção.

- Aqui minha jornada começou. Aqui eu dei o primeiro passo que fez com que eu me unisse a vocês.

A anã observou as costas largas do homem a sua frente como se o visse pela primeira vez, até então sem nunca acreditar que houvesse algo sobre ele que não fosse óbvio. Surpresa pelas palavras leves e aparentemente sem um fim prático e direto, que nunca antes fizeram parte do repertório de Karlrock.

- Bem... Se você precisa de alguém para ouvir sua história. Eu estou aqui. - ela disse em tom brusco e exageradamente agressivo, para tentar esconder seu real interesse.

Karlrock não pareceu ofendido. Ele acenou afirmativamente com a cabeça, virou-se para Lanma, e então sentou-se no chão encostado na árvore.

- Sim. Acho que é isso que preciso. - ele respondeu com sua mesma expressão neutra de sempre,

Lanma encarou o chão furiosamente para esconder o rubor de suas bochechas. Desnecessariamente, afinal ainda estava bem queimada do sol. Ela cravou a lâmina do machado no chão ao lado dela num movimento intenso e veloz, e então sentou-se no chão de frente para o homem esperando que ele começasse a contar.

A decisão de Molton

Molton é um entusiasta dos celulares antigos. Ele é jovem. Possui apenas 17 anos. Diferente da maioria da sua faixa etária, Molton usa o celular apenas em dois momentos, quando ligam pra ele ou quando recebe um SMS. Ele raramente liga pras pessoas. Acha um saco ter que ficar ligando quando você simplesmente pode ir até lá e falar com quem você quer falar bebendo um café, ou uma cerveja.

Um outro jovem, Gaspar, era mais descolado e extremamente conhecido nas redes sociais com seus vídeos no vcTubo. Ganha muito dinheiro com marketing apenas falando sobre aquilo que não conhece muito bem e que as pessoas também já esqueceram de modo ligeiramente irreverente. Ao ver Molton atendendo uma ligação em seu celular de slide, Gaspar rapidamente entrou em ação utilizando o seu celular moderníssimo para filmar tudo o que aconteceria.

E o jovem descolado mostrou-se um bocado preconceituoso em relação ao estilo do outro rapaz, mas fez uma proposta: Molton iria passar um dia inteiro usando um Smartphone. Se ele se adaptasse, Gaspar poderia fazer um vídeo com a participação de seu rival, senão ele teria de fazer um vídeo de desculpas utilizando um celular mais antigo do que o atual de Molton.

A verdade é que Gaspar queria perder a aposta. Ele invejava a tranquilidade e a liberdade que Molton tinha para fazer o que bem quisesse sem que trezentas pessoas ficassem perguntando para saber da sua vida pessoal. Com uma notificação pipocando a cada minuto e um pequeno contrato de divulgação de celulares de uma marca mais simples, ele era induzido a fazer coisas que não gostaria.

Molton, ainda não aceitou a aposta. A aceitação estará formalizada apenas quando ele fizer um vídeo usando o seu recém adquirido celular confirmando a aposta e citando Gaspar. Ele sabe que ao fazer isso as redes sociais estarão entrando na sua vida como um estouro de boiada, e agora olha para para o aparelho, meditando enquanto faz um barro porreta no banheiro.

O que será que Molton fará?

Frente fria

Uma frente fria está chegando no Rio de Janeiro. Na verdade já chegou e tá até chovendo, isso significa que vai ter muita gente ficando gripada devido a mudança climática.

Como tudo na vida, mudanças bruscas realmente tem algum impacto sobre nosso corpo. Sejam essas mudanças no clima, na gente ou em alguém que conhecemos. Isso não é necessariamente ruim. É só saber usar os fatos a nosso favor.

Eu estou em uma mudança brusca e me adaptando. Posso dizer também que diversas frentes frias estão aos poucos fazendo chover e regando a minha terra. Tornando-a produtiva novamente.

Polêmica #60 - Bolsonaro Contra-Ataca

Eu vejo uma porção de gente focando o dia de ontem apenas em 1 ou 2 membros do plenário e eu vou colocar aqui alguns pontos que eu acho pertinentes.
Bolsonaro saudou um torturador. Agora vamos olhar pelo lado de quem combate o crime. Se você tem uma pessoa que você sabe e tem provas de que a pessoa estava envolvida em atividade criminosa e ainda sabe que ela não atuou sozinha, você não torturaria aquela pessoa? Ou melhor, por que não torturar os filhos daquela pessoa? Na hora que o bope tortura bandido no tropa de elite todo mundo concorda né? Tortura é uma técnica de obtenção de informações sem escrúpulos. É a questão de sacrificar 1 pra salvar 500. Eu certamente não teria coragem pra isso, mas tem gente que o faz e realmente consegue resultados positivos.

domingo, 24 de abril de 2016

Parcimônia Frenética #15 - Aventureiros (Descansando na beira do riacho)

O halfling habilmente cortava a grama alta e arbustos mais densos enquanto traçava o caminho da estrada até o riacho escondido entre as árvores baixas. As adagas reluziam ao surgirem subitamente em suas mãos para cortarem o caminho, e sumiam com mais um piscar sem deixar pistas de onde haviam ido parar. É claro que o fato de Phyl estar usando uma camisa simples e encardida, e uma calça transbordando de bolsos deixava a dedução bem simples.

O homem com as placas de metal seguia logo atrás com o mico empoleirado em sua cabeça, acompanhado pelo trôpego e desajeitado jovem de robes longos e escuros que carregava a pilha de vestes da elfa e parecia indeciso sobre tropeçar nas raízes protuberantes e imperfeições do terreno, ou no próprio robe. A anã, cada vez mais vermelha e suada, vinha mais atrás arrastando os pés e bufando.

Logo todos estavam na beira do riacho. O homem pôs suas tralhas e a mochila da elfa no chão, e foi ajudar a anã a se livrar das próprias de maneira estranhamente gentil para um figura tão mal-encarada e sisuda. A anã desabou nas margens d'água assim que pôs os pés dentro da mesma, e brigou e resmungou um bocado antes de acabar aceitando a ajuda do homem para tirar sua mochila e tralhas das costas. O halfling simplesmente se jogou de costas na grama úmida e fresca, e aproveitou a sombra.

A harpia planou em espiral até atingir o solo, e posou elegantemente próxima ao grupo. Assim que os pés da ave tocaram o chão, a transformação se iniciou de forma reversa. Seu corpo se alongando, as penas e bico se retraindo, e as formas se enchendo até dar lugar a seu corpo feminino. Obviamente ela estava agora nua ali, fato que claramente envergonhava profundamente o jovem de robes longos e escuros, que fazia o melhor possível para estender a pilha de roupas que havia trazido para a elfa enquanto virava a cabeça para o lado oposto e espremia suas pálpebras para que se mantivessem fechadas com toda sua força.

O halfling era o único outro que parecia se importar com a aparição da companheira nua ali, lançando olhares fugazes e dissimulados para o corpo da mesma.

A elfa terminou de se vestir, e em breve todos estavam assentados e bebendo água, se refrescando no riacho, e enchendo seus cantis. Finalmente num ambiente fresco e protegido do sol eles podiam enfim descansar e recuperar as forças. A pele alva da anã voltara quase que completamente ao seu tom pálido, ressaltado pelas bochechas, nariz, e ombros que agora exibiam um tom avermelhado que demoraria um pouco a sumir. E ela também parecia bem mais confortável e vigorosa, apesar de que isso só significava que havia recuperado forças o suficiente para reerguer sua fachada orgulhosa.

- Se retomarmos a caminhada depois de descansarmos um momento, ainda teremos algum tempo de luz. Provavelmente o suficiente até chegarmos as ruínas. - disse o homem das placas de metal.

- Temos mesmo que voltar a andar ainda hoje, Karl? Não dá pra ficar por aqui e montar acampamento? Parece um lugar tão confortável... - sugeriu o halfling displicentemente enquanto se espreguiçava na grama.

- E perder metade do dia só porque alguns de nós não conseguem aguentar um pouquinho de calor? - respondeu num tom agressivo a elfa, Nerani.

A anã sentiu-se imediatamente ofendida, se pondo de pé e estufando o peito.

- Eu não pedi que ninguém parasse em lugar nenhum! Estava bem e podia continuar andando se quisessem!

A elfa suspirou e ergueu uma mão apaziguadora.

- Não estava me referindo a você, Lanma. Acalme-se.

A anã bufou e sentou-se novamente, ainda irritada e se aproveitando do rubor da queimadura para esconder o enrubescimento de vergonha que tomava suas bochechas.

- E-eu não queria voltar a andar... Ma-mas acho que daqui a pouco o sol vai estar mais baixo, mais fraco. Não f-faz sentido mesmo parar agora na metade do di-dia. Infelizmente...

- Então, descansaremos um pouco e então voltaremos a andar para chegar nas ruínas antes que o sol se ponha. - ordenou Karl de forma conclusiva.

Cada um então virou-se para um lado e se puseram a descansar. Phyl, o halfling, parecia cochilar na grama. Nerani, a elfa, mantinha-se sentada numa posição de aparência desconfortável olhando para o vazio, enquanto o mico, Prim, saltitava a sua volta caçando insetos. Lanma estava sentada encostada no tronco de uma árvore perto da margem do riacho, com uma feição aborrecida, e acariciava seu pesado machado sobre as pernas como um animal de estimação querido.

O jovem de robes longos e escuros tinha tirado um pesado livro da mochila, e parecia lê-lo concentrado. Porém, foi ele o primeiro a perceber que alguns minutos depois algo havia acontecido.

- Errr... Pe-pessoal...? - ele indagou aos outros a sua volta.

- O que foi, Mirdonis? - o halfing respondeu prontamente, revelando estar bem mais atento do que parecia.

- Ca-cadê o Karlrock?

E o homem das placas de metal, Karlrock, realmente não estava em nenhum lugar a vista.

sábado, 23 de abril de 2016

Parcimônia Frenética #14 - Aventureiros (Uma estrada sob o sol)

A equipe morosamente pela beira da estrada de terra batida, rejubilando-se a cada oásis de sombra debaixo de uma das raras e solitárias árvores que surgiam fortuitamente acompanhando a estrada. Para este e aquele lado só se podiam ver extensos terrenos de grama alta ou algum cultivo de grãos, intensamente iluminados pelo o sol que no momento se encontrava livre do abraço dos nuvens bem ao centro do céu. Uma brisa refrescante era uma bênção rara e fugaz. E as pesadas mochilas de equipamentos, e as armas, e as armaduras já parcialmente retiradas, não tornavam o caminho nem um pouco mais fácil.

O clima estava claramente taxando mais cruelmente a mulher baixa, extremamente baixa, que estava quase que totalmente despida de suas vestes protetoras de pele grossa de urso e tachas de metal. Sua pele alva estava rapidamente tomando um tom rubro, especialmente nas bochechas, nariz e ombros, quase tão rubros quanto seus cabelos ruivos. Ela escorria gostas de suor a cada passo, e parecia dá-los arrastado os pés. Ofegava e pendia sob o próprio peso. Mas se recusava a parar ou largar a sua mochila, ou mesmo tirar o imenso machado de cima do ombro.

O homem que andava na frente fez uma pequena pausa e dirigiu o olhar a equipe que o seguia. Metade das imensas placas de metal que normalmente cobriam seu corpo estavam encaixadas entre si e amarradas junto a sua mochila, o que fazia parecer que ele certamente estaria carregando o maior peso dentre os outros que o seguiam. Sem contar que as placas de metal que mantinha nos braços e pernas provavelmente o estariam cozinhando lentamente naquele sol. E mesmo assim ele parecia o menos afetado pela situação como um todo. Não fosse o suor escorrendo em sua testa, mal se poderia dizer que estava caminhando a tanto tempo no sol.

Seu olhar atencioso e sério perscrutou a anã ruiva, e seus lábios se torceram de maneira desaprovadora. Ele sabia que anã vinha das terras do norte, que eram governadas pelo frio e pelo gelo, e portanto aquele clima provavelmente estaria minando suas forças em ritmo acelerado. Respirou profundamente e soltou uma mescla entre bufo e suspiro antes de voltar seus olhos para o caminho em frente.

- Nerani. - a voz do homem ecoou num tom grave e categórico - Veja se encontra um riacho escondido na vegetação no campo ali a esquerda. Pelo que eu lembre, devem haver algumas árvores baixas por ali.

A mulher alta e esbelta, de pele morena e sedosa, que usava tiras de couro, pele, e casca de árvore discordantes como vestimenta parou de andar ao ouvir a ordem. Ela ajeitou os longos e volumosos cabelos escuros e encaracolados para trás das longuíssimas e pontudas orelhas, e lançou um longo e incisivo olhar para o homem que a proferira. Por alguns segundos pareceu estar prestes a expor algum tipo de protesto, mas por fim se acalmou e soltou o ar de forma longa e monótona.

A elfa pôs o longo galho de madeira que lhe servia como bastão no chão, logo em seguida se agachou e retirou a mochila das costas, deixando-a no chão também, passou a tira de couro do cantil sobre a cabeça, lutando com os sujos e emaranhados cachos com adereços de pena e osso no processo. E enquanto tudo isso acontecia, um pequeno mico saltava pelas suas costas, cabeça, e ombros, habilmente manobrando a si mesmo para continuar empoleirado na elfa.

- Prim, você também... - ela disse levantando a mão até próximo ao ombro onde agora o mico se encontrava

O mico pulou para o seu braço e soltou um guincho inquisitivo para a elfa, observando-a atentamente com os enormes olhos escuros e virando a cabeça em movimentos rápidos e curtos.

- Espere aqui...

Ela pôs o pequeno primata sobre sua mochila, onde ele ficou após soltar um leve guincho de desaprovação. E então se levantou.

A elfa elevou ambos os braços bem ao alto, e respirou profundamente. E enquanto soltava o ar algo incrível acontecia... Seu corpo parecia diminuir, retraindo para dentro de suas vestes, seu rosto parecia alongar-se, seus braços se vergavam de maneira estranhas, e penas brotavam de sua pele.

A transformação foi rápida, durando pouquíssimos segundos, e por fim suas vestes caiam vazias no chão enquanto a elfa, agora uma harpia amarronzada e cinzenta, voava para fora e para o alto.

Nenhum dos outros integrantes da equipe pareceu surpreso ou assustado, apesar de alguns estarem claramente impressionados. Essa não era nenhuma novidade entre eles.

A elfa em forma de ave sobrevoou a equipe e então o campo, sendo observada atentamente pelo primata que havia ficado no solo. E depois de algumas voltas pelo céu, finalmente começou a sobrevoar um lugar específico sobre o campo e soltou um assobio de chamado.

- Phyl, vá na frente. - o homem com as placas de metal comandou enquanto se movia para pegar a mochila da elfa, o que aumentava a sua carga insensatamente grande.

O pequeno mico pulou animadamente para sua cabeça, aparentemente acostumado com o homem.

Antes que pudesse abaixar para pegar as vestes da elfa, foi interrompido por um dos outros membros da equipe. Um jovem de cabelos intensamente pretos e olhos intensamente azuis, que vestia robes desnecessariamente longos e escuros, e se recusava a tirá-los mesmo naquele calor. Ele catou cuidadosamente as vestes estranhas e desconexas da elfa, com certa dificuldade para dobrá-las e em algum ponto quase derrubando tudo, e ofereceu um sorriso constrangido mas gentil ao homem que parecia já ter peso demais.

O homem agradeceu a ação com um aceno de cabeça.

Enquanto isso, Phyl, o último membro do grupo, habilidosamente já seguia através da grama alta. Com cuidado e precisão, o pequenino ser que lembrava um homem adulto encolhido ao tamanho de uma criança averiguava o terreno e traçava uma trilha clara até o ponto em que a elfa sobrevoava. O halfling vestia uma calça de couro leve e bem costurada de onde surgiam mais e mais bolsos por quanto mais tempo se observasse, e levava na mochila o resto de sua armadura.