terça-feira, 22 de setembro de 2015

Polêmica #33 - Arrastão na Zona Sul

Os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro tem levado a uma série de discussões a respeito do assunto.


Seu Facebook deve ficar cheio desse tipo de coisa até o final do mês.

Mas vamos lá porque hoje é dia de polêmica! E as redes se sociais se tornaram o palco de discussões sociais. Você vê de um lado gente falando que tem que descer a porrada nos assaltantes e gente falando que eles são vítimas do sistema. Então vamos dar uma conferida nos fatos.

O arrastão é a notícia mais falada do momento pois é a que afetou uma quantidade significativa de pessoas no mesmo dia. Ele acontece quando um grupo grande de marginais resolve assaltar um grupo grande de pessoas. As pessoas geralmente são pegas de surpresa, são agredidas e tem pouco tempo de reação. O objetivo é conseguir a maior quantidade de bens possiveis. Colares, celulares, carteiras, bolsas e tudo mais que puder ser levado facilmente com as mãos. Até a sua roupa.

O lance é, todo mundo vê isso como um problema, só que um lado dá uma solução rápida e o outro a contesta por ser uma solução maquiavélica oferecendo uma solução mais lenta. A solução rápida dada é aumentar o policiamento e a fiscalização e utilizar de ações preventivas como blitz no ônibus, cortes nas linhas dos ônibus, dentre outras formas de dificultar o acesso a praia.

O outro lado vem com alguns argumentos que estão corretos. Você não pode tomar nenhuma medida preventiva porque isso é um absurdo a nível de constituição e de humanidade. Barrar a entrada das pessoas na praia baseada em um critério arbitrário não faz sentido nenhum. Você não pode prender pessoas preventivamente. Você não pode intervir no direito de ir e vir dos cidadãos para onde eles bem quiserem. Essas pessoas acreditam que problema tem que ser resolvido reduzindo a desigualdade social para que esses eventos não aconteçam também nas outras áreas que a mídia não cobre.

Agora vamos discutir algumas idéias aqui:

  • Você pode sim barrar a entrada de pessoas nas praias. As praias ao redor do mundo são fechadas. Você precisa pagar uma grana pra poder usá-la. Isso é um critério completamente abitrário. Quem tem a grana pra entrar, entra, quem não tem, não entra.
  • Cortar as linhas de ônibus apenas vai mudar o foco dos problemas, se de fato mudar. Pois as pessoas que fazem esse tipo de coisa nem pagam as passagens.
  • As pessoas dizem que ouvem falar de arrastão frequentemente em outras partes da cidade. Eu discordo, pois nos meus trajetos eu jamais sofri um assalto em 10 anos. Posso assegurar que ocorre pelo menos um assalto por dia, mas é fato que quanto mais próximo das comunidades você esta, menor o risco de você ser assaltado.
  • Aumentar o policiamento é uma solução obvia, mas isso não é possível sem aumentar o orçamento da organização, e para fazer isso você precisaria tirar dinheiro de outro serviço público ou aumentar os impostos. Você sempre vai desagradar alguém fazendo esse tipo de coisa. Claro que isso provavelmente poderia ser resolvido se o dinheiro não fosse todo desviado para os políticos.

E diversos outros contra-argumentos, mas o ponto em comum é, os dois lados discordam que o arrastão não deveria acontecer. Vamos pensar em algumas questões:

  • O arrastão precisa mesmo acontecer?
  • A pessoa que é pobre e está passando necessidade vai sempre recorrer a essa alternativa para solucionar o seu problema?
  • Qual é o tipo de pessoa que rouba os pertences de outra?
  • Qual é a razão para o crime?

A ciência se faz por meio de perguntas e é justamente isso que vamos fazer. Obviamente vamos tentar responder essas perguntas para as quais nenhuma resposta é absolutamente conclusiva. Provavelmente iremos falhar e outras pessoas vão discordar, mas é por isso que vivemos em sociedade.

  • O arrastão não precisa acontecer.
  • Existem outras alternativas para conseguir dinheiro: Trabalho, amigos, e esmola.
  • Pessoas que possuem privilégios seja por constituição, recursos ou posição social.
  • Acumular recursos para exibí-los.

A pessoa não precisa ser preta e pobre pra roubar. Pode ser branca e rica também. Desvio de dinheiro também é roubo. Sonegar imposto também é roubo, mas os grupos se valem de uma série de privilégios para continuar fazendo o que fazem. O cara que não tem esses privilégios é o cara que comete um crime por necessidade e acaba sendo preso. Vide o cara que pegou 10 anos de cadeia por roubar uma caixa de Nuggets.

Mas o roubo não precisa acontecer. O governo possui uma série de programas assistêncialistas que poderiam dar certo se eles fossem mais humanos e menos maquinários. A previdência gasta muito dinheiro com esses programas. 30% vai pra corrupção, é claro, mas muitas pessoas são beneficiadas e conseguem sobreviver por causa disso. Trabalhar é possível sim, mas o mercado de trabalho no brasil é implacável e burro. Isso porque a maioria das empresas não esta interessada em absorver uma pessoa e capacitá-la, e sim conseguir alguém já capacitado para exercer uma função. Amigos nem sempre podem ajudar, especialmente quando eles estão na mesma situação que você. Só lhe resta pedir esmola mesmo. Só que os pedintes que usam o dinheiro para sustentar seus vicios acabam minando a chance dessas pessoas conseguirem qualquer coisa.

E se você parar pra pensar a última solução que qualquer pessoa pensaria seria o crime. Isso porque nenhum cidadão pacato quer arrumar problema com outro cidadão ou com a polícia, o cara só quer continuar vivendo, fazer um sexo com suas mulheres e tomar umas cervejas com os amigos.

- Mas e quanto as suas soluções pras pessoas que estão roubando?

Ah, claro. Eu particularmente não tenho muitas soluções. Não acho que o problema da desigualdade social vai ser sanado de um dia para o outro. Acredito que o trabalho para minimizá-la deve continuar, mas ainda assim você tem que ser capaz de pensar em soluções a curto prazo. Não acho que aumentar o policiamento vai ajudar muito sob a situação atual. Os crimes ainda vão acontecer. Eu sou a favor da opção controversa da prevenção.

Eu sou a favor das revistas em ônibus e da detenção de suspeitos. Podem me crucificar, mas eu acredito nela, apesar de ser uma coisa completamente controversa. Reduzir o índice de criminalidade pode ser útil, e é possível perfilar os criminosos através dos dados e dos registros da polícia. Fora que um policial por ser uma pessoa que está imersa no trabalho tem um conhecimento tácito sobre quem é um possível suspeito e quem não é. Obviamente existe a questão da corrupção, e um policial pode extorquir uma pessoa fazendo exatamente aquilo que queriamos evitar.

Por fim, a resposta não está em um pacote de medidas. A resposta está nas atitudes das pessoas.


Imagens:
acervo.oglobo.globo.com

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