quinta-feira, 5 de março de 2015

Engarrafado

O problema do trânsito no Brasil possui dimensões assustadoras. Isso não ruim só para os motoristas, mas chega a atrapalhar até os pedestres que não deveriam estar completamente envolvidos nessa situação. Onde está o erro nisso tudo?

Antes de colocar a culpa no governo, e gritar que tudo é uma grande tirania, vamos analisar os fatos básicos. Quais são os causadores dos engarrafamentos? Vamos direto na raiz do problema e daí vamos supor que isso é consequência de alguma coisa e tentar retirar as causas.


Engarrafamentos acontecem em funções de afunilamentos. É muito simples. Você inicialmente tem uma pista onde dos carros  trafegam ao mesmo tempo. Logo em seguida essa para encolhe para caber só um carro por vez. Então um carro vai entrar e o outro deve esperar a sua vez para entrar. Qual é a consequência disso?

Se você respondeu fila, você acertou. Na verdade você acaba gerando duas filas. Para você não gerar fila, você precisaria que não houvessem dois carros trafegando lado a lado na pista. O que é muito difícil já que os carros tem velocidades distintas.

Agora pegue os funis que existem nas nossas estradas e considere que qualquer saída de uma vida expressa é um possível funil. Até porque sempre tem um motorista querendo cortar uma fila. Esse cara vai gerar uma fila dupla. Uma que vai esperar ele entrar pra poder seguir reto, e outra que vai ter que esperar ele entrar pra poder pegar aquela saída.

Outra coisa que levam a problemas são convergências. Quando carros que vem da transversal de uma rua tentam cruzá-la ou entrar nela, eles tendem a gerar uma fila atrás de si. E quando tem a chance de entrar a pista de fecha para as pessoas que já estavam nela, ou seja, quando você esvazia uma fila, você enche outra. Até aí o trânsito parece ser uma sinuca de bico.

Resumindo a história: Engarrafamentos são gerados por filas de obtenção de serviço.

Isso nos leva a duas soluções possíveis:
  1. Aumentar as rodovias
  2. Reduzir o número de veículos
São duas opções que ao mesmo tempo que são perfeitamente possíveis, são impossiveis. Isso é uma coisa extremamente estranha, contra-intuitiva e contraditória. Vamos começar com o caso 1.

Aumentar as rodovias significa fazer obras. Só que para você fazer uma obra de caráter público, até porque as rodovias são, em geral, vias públicas, você precisa que o governo faça licitações, faça um contrato com uma empreiteira/construtora que deve ganhou a licitação, que esse contrato seja aprovado, que liberem a verba para a construtora. É um processo extremamente burocrático, que demanda liberação de verbas públicas, que não é exatamente algo da qual os governos andem bem das pernas.

Antes que vocês venham reclamar da dívida dos governos brasileiros, lembre-se que a dívida interna dos Estados Unidos é superior a nossa. Se você fizer um pouco de pesquisa vai ver até que a gente nem ta tão ruim assim.

Porém se você não aumenta as rodovias você não gera empregos temporários e não permite que a economia das constutoras gire para que elas ganhem dinheiro e paguem as dívidas delas com os bancos para que os bancos ganhem dinheiro pra poder emprestar pro próximo empresário. Fora o fato de que você ainda ganha um bocado de gente desempregada. Logo, aumentar as estradas é possível e benéfico, porém existe uma barreira gigantesca de burocracia que impede que isso aconteça.

E olha que eu nem entrei no mérito físico da coisa, como ter que remover imóveis pra poder alargar as rodovias.

Vamos então para a segunda opção! Reduzir o número de veículos. Parece bastante obvio e plausivel. Menos carros na rua significa menos veículos nas filas pra obtenção de recurso. Agora, como é que você vai tirar os carros da rua?

Se você simplesmente baixa uma lei pras pessoas não saírem de carro, então pra que diabos as pessoas vão querer comprar carros? Fazer isso vai simplesmente fazer com que as importadoras não mandem mais carros pra cá. Como no Brasil não temos quase montadora alguma, então todos os carros que atualmente existem ficariam inutilizados a partir da execução da lei, e não haveriam mais automóveis sendo vendidos. Concessionárias iriam fechar e os bancos provavelmente iriam ganhar uma grande divida que nunca seria paga.

Observe que o Brasileiro tem tanto apego ao carro e tanto repúdio ao transporte público que, mesmo com os preços absurdos dos automóveis, as pessoas preferem pagar uma quantia muito grande em um veículo do que pegar um transporte público para chegar ao seu destino. Note que o valor dos automóveis segue perfeitamente bem a lei da oferta e da demanda da economia.

Porém o transporte público não. O transporte público no Brasil é feito através de concessões. Resumindo, eles terceirizam o serviço de transporte, o que não é errado, mas gera alguns problemas devido a falta de controle que existe sobre essas prestadoras.

Logo, você não pode simplesmente revogar uma lei e acabar com um setor econômico do país, nem consegue frear a demanda por meios naturais. Então você precisa gerar um substituto de qualidade suficiente para competir com o meio de transporte individual. Só falta saber o quanto custa para fazer um transporte público de qualidade, e também o quão custoso é manter esse transporte.

A conclusão é: Falta investimento no transporte público no país.

Encerro aqui essa reflexão.

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